quarta-feira, 23 de outubro de 2013

24 e 25.10.2013 - Dias 191 e 192 - Avignon - Châteauneuf du Pape - Valence - Lyon

Nosso destino está bem próximo, apenas 20 km e já paramos.
Na foto abaixo, seguindo o caminho da estrada você consegue ver bem pequenininho o Castelo do Papa. Apesar da foto não fazer jus à boniteza ele domina o horizonte da vila e região.

Vamos de MH até o Castelo e depois descemos a pé até a vila.
Só prá situar : o Papa João 22 encomendou a construção do Castelo em 1317-1333. Pelo seu posicionamento e tamanho tinha função claramente defensiva, mas oficialmente era a residência de verão. Pelo jeito estavam necessitando de mais espaço, os 2 palácios de Avignon já não eram suficiente e precisavam gastar o $$. Que maledicência de minha parte! 
Enfim, construíram o Castelo e implantaram os vinhedos, nos quais hoje é produzido um dos melhores vinhos dos Côtes du Rhône.
  
Quando os Papas retornaram a Roma em 1377 foi sendo abandonado aos poucos. Foi sucessivamente sendo pilhado e saqueado: as guerras religiosas no século 15; a Revolução Francesa (de novo...) colocou à venda todo edifício que pertencesse à Igreja e até os alemães na Segunda Guerra andaram por ali, instalaram um posto de observação anti-aéreo e quando foram embora dinamitaram mais um pouco por diversão.
Esses banquinhos são apropriados para uma "fofoca" com vista
Foi listado como Monumento Histórico em 1892 pelo empenho dos moradores mas seguiu sendo dilapidado. Tudo o que restou foram essas paredes.O que não conseguiram destruir foi a beleza da paisagem no entorno. 
Que mirante! Ao fundo o Rio Rhône. A primeira menção sobre a Vila é de 1094, em 1360 era aqui a maior feira da região e o nome Châteauneuf-du-Pape só foi adotado oficialmente em 1893.




A impressão que temos ao percorrer as ruelas é que em cada porta há um produtor de vinho e sua cave. 
Quando as uvas começam a amadurecer em agosto fazem festa; quando a uva está pronta para colher em setembro ... fazem festa! Eh beleza!





Quem entende de vinhos sabe que a palavra "Châteauneuf-du-Pape" tem poder no mundo vinícola: sinônimo de qualidade. 


Prefeitura: a cidade tem 2.100 habitantes; 3.200 hectares de vinhedos; 13 tipos de uvas, sendo a grenache a predominante; foi aqui que as normas da "Denominação de Origem Controlada" foram elaboradas e viraram lei em 1936. 
Essa tem que explicar: nesse local estava sendo gravado um programa sobre sei lá: a cidade, a região, os vinhos, turismo ... o galã falava e mostrava a garrafa de vinho discorrendo sobre ... e quando subimos incentivei o Silvano a imitar o rapaz. Para quem conhece essa pecinha sabe que ele não se faz de rogado... foram muitas fotos, difícil escolher a mais bonita! 



 Vamos falar sobre essas pedras arredondadas "galets roulés" , "seixos" ...
Desempenham importante função nos vinhedos dessa região de solo argiloso. Essas pedras retém o calor do sol e libera à noite, favorecendo o amadurecimento mais rápido da uva. Outra função é proteger o solo retendo a umidade nos meses secos de verão.
A média anual de horas de sol é 2.800. 
Nas encostas em que o solo é arenoso não se usa os seixos. 

Visita ao Museu do Vinho numa casa de pedra centenária (o que por aqui não quer dizer nada, tem algumas várias vezes centenárias)
Antiga cesta para colheita de uva: a cesta mudou nos dias de hoje mas a colheita continua sendo manual

Hora da degustação, escolha e compra de pelo menos uma garrafa
Outra cave para visitar, degustar e comprar. Encontramos um casal de brasileiros e fizemos a visita juntos.



Pé na estrada que tem muita parreira para admirar
Orange só na passada: cidade com importantes vestígios romanos (acima o Arco do Triunfo, de arcos triplos, decorado com cenas de batalhas, construído por volta de 20 d.C.), grandes vinhedos e importante mercado de produtos regionais: além das uvas, mel, trufas, azeitonas. Estamos nas bordas da Provence, caindo dela, tendo a direita o Mont Ventoux = Montanha de Vento".
Falando em romanos não podemos esquecer que foram eles que trouxeram as vinhas prá estas bandas.
No fim do dia encontramos esses dois motorhomes diferentes e bonitinhos

Dormimos em um posto na beira da auto-estrada ... perto da cidade de Valence.

O bom de dormir em posto é que pela manhã tem menos coisas a fazer e saímos um pouco mais cedo.
Continuamos a subir o Vale do Ródano e vamos em direção a Tournon-sur-Rhône. O povoado de Tain l'Hermitage é famoso por seus vinhedos e a uva rainha para os vinhos tintos é a Syrah ; terrenos graníticos ... cada quadradinho de terreno tem particularidades especiais e distintas o que garante a individualidade de cada produtor.  

 Vinhedos em encostas íngremes e ao abrigo do vento que vem do norte



Já estamos na região denominada Vale do Ródano e Alpes Franceses: a leste os picos nevados e o Rhône=Ródano faz a ligação norte-sul.
Região de cidades com perfis diferentes: Lyon histórica e gastronômica; as estações de esqui Chamonix e Courchevel; estâncias hidrominerais; Grenoble universitária ... 
Mas nosso destino agora é um vilarejo situado no alto das montanhas mas difícil de achar. Anda, olha mapa, pergunta e a informação correta do último inquirido nos leva a Hauterives.
 Paisagem rural, montanhosa e vilas bem pequenininhas
 Mal estacionamos e descemos de MH a senhora que estava lendo jornal no carro ao lado nos mostrava com toda emoção a matéria sobre a enchente que havia assolada seu vilarejo no dia anterior. Ela falava, gesticulava sobre a força do rio e mostrava as casas que ontem estavam com água. Olhamos para o rio ao nosso lado e ele bem calminho. Mas olhando de novo podíamos ver que uma camada de lama ainda estava nas ruas, em cima das flores e grama 

Reparem que a casa rosada com uma janelinha é a mesma que está estampada no jornal ilhada. Gente! Isso foi ontem e o que vemos é um pouquinho de lama. As árvores caídas já foram retiradas, lixo não tem porque rio não é lixeira ... fica mais fácil limpar a cidade!

 O Rio Galaure depois de um dia de fúria


 Placa no estacionamento para turistas : "Vossos objetos de valor podem interessar aos indelicados. Não os tente." 

Mas o que nos trouxe a Hauterives hoje? Ainda bem que não foi ontem, dia de toró!
Um recorte de revista de muito anos dizia de um lugar especial por aqui ... anos depois cá estamos ... Palais Idéal du Facteur Cheval
Senta que lá vem história:
segundo o Guia Visual da Folha "aqui fica uma das maiores extravagâncias da França, um excêntrico palácio construído inteiramente de pedras" e por uma única pessoa. Quem? O carteiro local, Ferdinand Cheval.
Ele não conheceu a poesia do Carlos Drummond de Andrade que dizia que tinha uma pedra no caminho, no meio do caminho tinha uma pedra.
Ferdinand Cheval (1836-1924) conta que "tudo começou quando tropecei em uma pedra e quase caí, quis ver do que se tratava. Era uma pedra com uma forma diferente. Guardei-a em meu bolso para observar depois com tranquilidade.Dia seguinte voltei ao mesmo lugar e descobri pedras mais belas. E disse a mim mesmo: já que a natureza quer fazer a escultura, eu farei a edificação e a arquitetura" .
Ser carteiro naquela época era andar 32 km a pé por aquelas montanhas e o que ele fazia enquanto andava? Sonhava e construía um castelo em pensamento.
Temos o direito de achar extravagante, de mau-gosto, rococó ou barroco, estranho ou esquisito. Mas a verdade é que você fica "tocado" com a sensibilidade de uma pessoa que não teve estudo, teve uma vida familiar conturbada com a perda de pais, esposa, filhos e lógico que a fama de "louco" por onde andava. Bem certo da cabeça não devia ser mesmo. As imagens estão aí ... ele não morava aqui, morava numa casa em frente que não existe mais. 







Há referências ao Egito, templos hindus, natureza, os gigantes 

 Estilos arquitetônicos os mais variados: romanos, astecas, siameses


























 Entre as inscrições com frases de sua autoria essa destaca-se: "1879-1912 10.000 dias de trabalho  93.000 horas  33 anos de trabalho árduo"
 Pedra a pedra o sonho tornou-se realidade. Ele queria provar que uma pessoa filho de camponês e sem instrução também podia ser uma pessoa de talento e com energia para levar a cabo tal empreitada.
Taí, hoje faz parte dos Monumentos Históricos da França, é considerado um exemplo de arquitetura naif (executado por pessoa sem formação acadêmica, arte primitiva, +- isso).

Pensa que acabou a história? Onde vocês acham que ele está enterrado?
Quando ele descobriu que não ia poder ser enterrado na jardim de sua casa iniciou a obra no cemitério local. Vamos ver!
 De falta de imaginação ele não padecia.

 Essa parede está meio despida! Será que ele morreu antes de concluir a obra?



 E assim vamos nos despedindo de Hauterives e seu Carteiro "Doidinho"





Demoramos tanto em Hauterives que chegamos em Lyon bem tarde, já escuro.
A ideia não era parar em Lyon porque já estivemos aqui em 2011 mas da estrada vimos a placa de Camping e nesses dias bicudos não se pode recusar uma placa de camping aberto ... o próximo pode estar a milhas de distância.

Até amanhã. 

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