quarta-feira, 23 de outubro de 2013

12 a 14.10.2013 - Dias 179 a 181 - Millau - Roquefort - Gignac - Remoulins

Sábado com frio, chuva e a bateria do MH não quis pegar nem com reza brava!
Silvano tentou várias vezes, eu saí atrás de algum lugar que vendesse bateria e não achei.
Só descobri que a cidade de Millau é especialista em fabricação de luvas: muita loja, muita fábrica...
Aí foi a vez do Silvano procurar e ele conseguiu carona até o centro comercial e por sorte estava aberto. Voltou de táxi para o camping portando uma bateria nova! Na verdade a gente não queria comprar esse ano porque jájá vamos embora e ela vai descarregar esses meses sem uso. Mas chegou no limite, todo dia arrumávamos as coisas e!! será que vai! 
Tudo certo voltamos lá para testar a bateria e pegar a garantia. Fiz compras no mercado, comprei comida pronta: perguntei para a vendedora que carne era aquela, na mímica e ela colocou dois dedos na cabeça e fez muuu!!! Hilário! Almoçamos a carne de touro ali mesmo no estacionamento. Resultado: saímos muito tarde (tarde é normal).
Primeiro local que paramos: no Centro de Visitantes do Viaduto de Millau:
conta a história do projeto, construção, manutenção com maquetes, filmes, folhetos. Tem também a visita a um dos pilares mas não fomos.
O site para quem gostar de pontes é www.leviaducdemillau.com 
O viaduto foi construído para cruzar o vale do Rio Tarn (o mesmo que viemos margeando ontem), pois o desnível é muito grande, em época de férias era um transtorno só. Essa estrada liga Paris a Barcelona. 


 A Ponte em números
Altura total : 343 metros
Comprimento total : 2.460 mts
O Pilar 2 é o mais alto : 245 mts


A construção demorou mais que o previsto: iniciou em 14/DEZ/2001 e inaugurou em 14/DEZ/2004. O consórcio ganhou o direito de explorar a ponte por 75 anos, mas se por acaso a empresa tiver um lucro muito maior do que o previsto (maior circulação de carros) o governo francês pode retomar em 2044 (isso já faz parte do contrato) ... 
Será que esse consórcio não gostaria de duplicar a nossa BR 101?? Faz mais de 20 anos que a obra se arrrrrastaaaa ....  



 É a mais alta ponte aberta ao tráfego de veículos do mundo, tem fotos com as nuvens encobrindo e fica muito bonito (na internet).   
 Só para terminar : a ponte foi construída para suportar condições climáticas adversas e abalos sísmicos, com garantia de 120 anos.
 Exposição com vários tipos de pontes ... 
  
Continuando mais um pouco na região do Maciço Central, seguimos para a cidade de Roquefort-sur-Soulzon, que está localizada no Causse du Larzac, a cor cinza predomina: casas, montanhas, igrejas.
A cidade de Roquefort fica ao lado de um afloramento calcário que em priscas eras se fragmentou e formou cavernas.

 Como era muito tarde só demos uma "ticada" e fomos para o camping em St. Rome-du-Tarn: um local que deu vontade de ficar parado vários dias, uma pintura: a montanha, o rio e o verde das árvores.







E banheiros limpos e novos! Maravilha ... apesar de já ter descoberto um "jeitinho" de me dar bem na hora do banho: como eu tomo banho muito tarde vou no de "cadeirante" ... são maiores, com pia e vaso, o chuveiro é melhor e já aconteceu de nem ser o de "apertar" (aqueles que ficam 15, 20 segundos e fecham automaticamente). Resumo da ópera: tem banheiro para pessoas com deficiência física locomotora? Eu sou forte candidata a tomar banho nele!

Resolvemos que temos que rodar, não podemos ficar por aqui. É uma pena...Voltamos para Roquefort, vamos testar o queijo de brebis=ovelha recém fabricado!



 Vamos conhecer essa do cartaz: Gabriel Coulet . A cidade tem basicamente uma rua e sete grandes fabricantes de queijo Roquefort.

 O leite de ovelha não-pasteurizado - recebe um bolor azul, que é desenvolvido em pedaços de pão. Depois é transformado em queijo e envelhecido nas cavernas úmidas da cidade. As cavernas tem 95% de umidade, em torno de 10°, ao abrigo da luz e um sistema de ventilação natural através das falhas entre pedras: as "fleurines".
Essa circulação de ar é que favorece o crescimento da Penicillium roqueforti e desenvolve o sabor e untuosidade característico.
Em 1411 a Carta de Carlos VI já confere aos habitantes de Roquefort o monopólio da maturação e faz de suas cavernas lugares protegidos.
Como "bandoleiro" tem em todo lugar, em 1666 houve o Pronunciamento de Toulouse para castigar os comerciantes de "falsos" roquefort.
Mas foi só em 1996 que o queijo é reconhecido como A.O.P. (Denominação de Origem Protegida).
  
 Antigamente era trabalhoso tirar o leite das ovelhas. Pelo que entendi só as ovelhas da raça Lacaune são adaptadas para essa região e para a produção de leite para o queijo Roquefort. O rebanho é de 750.000, cada uma em média produz 240 litros por período de aleitamento. As ovelhas daqui também vão passear no veraneio para outros pastos nas montanhas mais altos, viçosos e verdinhos (transumância).
 Não lembro quanto tempo o queijo leva nessa primeira fase, depois será envolvido em papel alumínio para prosseguir o "apodrecimento" , o que dura pelo menos três meses. A palavra final é do mestre queijeiro "chefe da caverna".


Compramos roquefort, quiche de roquefort, pão com roquefort ... e deu!


As ovelhas boas de leite da raça Lacaune
Nosso destino agora é o Causse du Larzac e a Rota dos Templários (de 1120) e Hospitalários (de 1113). Uma explicação básica: corria o tempo das cruzadas e essas Ordens Militares Religiosas tinham a função de abrigar e ajudar peregrinos que iam a Jerusalém visitar o túmulo de Cristo. Os Templários também se instalaram no Caminho de Santiago com a mesma missão: a de proteger peregrinos. Com o passar do tempo detinham tanto poder que acabou dando muita confusão e intrigas. O final da história? O papa dissolveu a Ordem e seus bens passaram para outras congregações!
Então voltando para cá: os Templários se instalaram nessa região por volta de 1150. Situada sobre antiga via de passagem, ligava Norte-Sul e partindo dos portos do Mediterrâneo podia-se ir para o Ocidente ou Oriente. Local estratégico!
A cidade La Cavalerie é testemunha desse passado com seu "centrinho" com muralhas e fortificado. 
Atualmente pequenas cidades tentam reviver e viver do turismo, que já está provado que se bem feito é capaz de criar empregos e sustentar com qualidade os moradores do local. A propaganda é sempre fundamental, um "folder" bem feito é sempre meio caminho andado!






 Hora da siesta: nenhuma viva alma por ali ... só os turistandos ... do lado de fora da muralha até tinha movimento em cafés e restaurantes


Documentos comprovam a existência de igreja nesse local desde 1154, e outro documento nomeia tal igreja como "Sta Maria da Cavalaria de Larzac". O atual edifício é do século 18.


A cruz vermelha templária e a concha símbolo do Caminho de Santiago de Compostela


Tradução bem livre : "Meu passatempo favorito é deixar passar o tempo, ter tempo, aproveitar o meu tempo, perder o tempo, viver à contratempo..." (Françoise Sagan, autora de Bom dia, tristeza!)

Bem depois dessa placa de jardim vamos que o tempo urge e ruge!
A paisagem continua com aparência árida, mas tem muitas flores silvestres e animais de rapina. Por essa região andou o escritor Robert Louis Stevenson ("A Ilha do Tesouro", O Médico e o Monstro") em 1878 tendo por companhia um burro chamado "Modestine". Andou pelas montanhas Cévennes, pelos Causses de calcário e escreveu um livro com a narrativa dessa viagem. Eu não li, mas já está devidamente anotado para procurar.

As cidades fortificadas pelos Templários que estão na rota turística são Ste-Eulalie de Cernon, St-Jean-d"Alcas, Le Viala du Pas de Jaux e La Cavalerie e La Couvertoirade, que é a próxima a visitar.
A peculiaridade dela é que carro não entra e paga-se pedágio com a cobrança do estacionamento. 
Em 1200 os Templários construíram um castelo e em sua volta cresceu o povoado, as muralhas foram construídas no século 15. Essa cidade tem muita relação com os elementos templários e hospitalários, principalmente no sistema de recolha de água: as cisternas e "lavognes", que é uma depressão na terra calcária e empedrada. Serve para juntar água das chuvas ou de nascente e para os animais. Fora das muralhas tem uma bem grande.

Mas vamos adentrar no recinto amuralhado primeiro ...



 Todas as casas são de pedra, muitas voltadas para o turismo: galerias de arte, hotel, restaurante, cafeteria, lojinhas de um tudo 



 Ruas empedradas ou sem nada

  
 A cidade praticamente se resume ao que está dentro das muralhas, tem poucas casas fora 





 Cemitério ao lado da igreja com estelas discoidais em ... pedra ...





Não adianta querer saber! Não perguntamos o que quer dizer exatamente "Le Vin de Merde" . Meu francês sofre de inúmeras restrições e perdemos a oportunidade de poder informar vocês com maior precisão sobre o assunto ... fica só a curiosidade .... 
Nota da redação: em tempos de internet TUDO se descobre: o sul da França tem fama de produzir vinhos ruins ... alguns produtores da região de Languedoc resolveram alavancar as vendas dando esse nome para satirizar. Tudo bem que não é nenhum Borgonha, mas o que importa é que a relação custo-benefício agradou. O fato é que o marketing fez sucesso e eles vendem toda a produção anual. Quando fazem degustação não mostram o rótulo, só depois que a pessoa bebe ... e o rosé tem tido ótima aceitação... se tivesse feito a lição de casa poderia ter comprado um vinho de merde por bom preço!!!  (essa informação é da BBC, de 22/10/2008) www.levindemerde.com
Que bonitinhos!! Os trailers em forma de vagão de trem!
 E vamos embora que a Provence nos chama!

Como já disse existem muitos campings mas estamos na baixa temporada, o tempo correndo célere em direção ao inverno e as opções vão rareando. 
A cidade de Gignac consta que tem 4 ou mais campings, mas com muito custo localizamos um dentro de um vinhedo, com pousada em uma casa de pedra bem bacana ... mas o camping ... pode concorrer com o vinho da matéria aí de cima na categoria "ruim prá caramba":  nem fui olhar os banheiros porque era pela trilha com matos, curta pero esquisita...

Campings assim é como no Caminho de Santiago: quando está escrito no guia palavras como: original, rústico, diferente ... pode esperar que geralmente vem bomba. Très rustique!
Mas tudo bem:  tinha energia e um dia sem banho ninguém morre! O Silvano não tem medo de banheiros rústicos e cumpriu com suas obrigações diárias.


Mas de tudo que fizemos e vimos hoje temos algo a comemorar:
é o nosso Dia 180 , 2 pessoas Cento e Oitenta Dias dentro do MH!
É duro mas é bom! Obrigada pela força de quem está longe! Saudades!
Ultreya = para frente , no sentido da realização de um objetivo
Suseya = para cima , no sentido da evolução espiritual

Como já disse Gilberto Gil um dia ...

"Andar com fé eu vou, que a fé não costuma "faiá"
A fé tá na manhã, A fé tá no anoitecer
Oh! Oh!
No pedaço de pão
...
Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Oh! Oh! A pé ou de avião
...
E mesmo quem não tem a fé
A fé costuma acompanhar
Oh! Oh! Pelo sim, pelo não!"

Até aqui o Senhor nos ajudou! Boa noite! Beijos!    

Amanhã termino ... retomando ...

Saímos do "camping très rustique" e fomos em direção ao Vale do l'Hérault.
Para a primeira parada foi menos de 10 km, na cidade de Aniane : Grand Site de France: Pont du Diable , com Centro de Atendimento ao Turista organizadérrimo, bonito e aberto ...  

 Construída entre os anos de 1028-1031 pelas abadias que controlavam a travessia do Rio Hèrault. Essa ponte é considerada uma das pontes romanas mais antigas da França.  Tem 15 mts de altura e 50 mts de largura, com 2 arcos principais e os secundários para quando o rio sobe. Está firmemente presa na rocha na parte mais estreita do rio. 
A construção da ponte foi dificultosa e demorada. Diz a lenda que o diabo toda noite desmanchava o que tinha sido feito durante o dia. Um dia Guilhem, que viria ser S. Guilherme, primo de Carlos Magno, fez com ele um pacto:
o diabo construiria a ponte em 3 dias e em troca Guilhem lhe ofereceria a alma da primeira criatura que atravessasse a ponte . O diabo adorou a ideia e mãos à obra... e ficou esperando quem atravessaria a ponte. mas o danado do Guilhem fez com que um cachorro passasse por ali.
O diabo ficou doido e atirou-se nas águas cavando um poço negro sem fundo...
Com o correr da lenda quando peregrinos passavam por ali na Idade Média jogavam pedras no rio na esperança de que o diabo não escapasse!!! Garanto que não inventei essa historinha bem sem gracinha! É a lenda da ponte!   


 Atualmente há outras 2 pontes para tráfego automotivo, a antiga é só para pedestres.



 A Ponte do Diabo está inscrita desde 1998 como Patrimônio Mundial da UNESCO, na categoria do Caminho de Santiago de Compostela na França.





Ganha um doce quem adivinhar de quem são aqueles 2 bracinhos fora d'água! Deve ser trauma de infância: não pode ver uma água que se pincha nela ... não importa se quente ou congelando!
 

 Totem explicativo com mapa do Caminho de Santiago na França
Despedidas da ponte, banho tomado, vamos seguir pelo Vale do Hèrault, com suas gargantas=gorges. O caminho é estreito, com sobes e desces.
Outra característica dessa região são os povoados circulares, +- do século 11, sempre fortificados.  

 Saint-Guilhem-le-Désert : por aqui chegou no ano de 804, Guilhem, o mesmo da história da Ponte do Diabo ... depois da batalha contra os sarracenos em Barcelona no ano 801 e decide abandonar as armas (era a época em que os mouros invadiram a Espanha). Funda um monastério e após sua morte torna-se um santo venerado e honrado em toda Idade Média.
A partir do século 10 a espiritualidade do lugar se afirma e se impõe como uma parada importante no Caminho de Santiago. 

 O povoado cresceu à sombra da Abadia de Gellone. O vilarejo é comprido, no Vale Gellone e acompanha a descida do rio Verdus: uma pena que não conseguimos lugar para estacionar o MH, então subimos e descemos pela única rua possível.  Muito pitoresca, um local encantador ... mas só olhamos! 

As oliveiras carregadas de ... azeitonas

 Parada para almoçar: diz a verdade! Lugarzinho mais ou menos não!!!???

 Pedra, no meio da estrada tinha muita pedra, pedreiras

Nessa batida de olhar, parar, tirar foto, fazer um lanchinho, admirar de novo a paisagem o dia passa e a noite nos pega ainda na estrada.
Vamos dormir em Remoulins, camping 3 km fora do centro, mas bem arrumado e barato.   

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