quarta-feira, 6 de novembro de 2013

28 e 29.10.2013 - Dias 195 e 196 - Beaune - Ronchamp - Kehl (D)

Dia do Funcionário Público ... feriado para nosotros nessa segunda-feira ...
Beaune está localizada na Borgonha na região conhecida como Côte d'Or que inclui a Côte de Beaune e a Côte de Nuits, quase uma linha reta de vinhedos desde Dijon a Santenay, espremida entre o vale do Rio Saône e o planalto com florestas, em 50 km de comprimento.
Recebe o nome d'Or porque as encostas tem solo dourado-avermelhado.

 Quando fazemos viagens longas em algum lugar estaremos nas segundas-feiras e nesse dia a grande maioria das atrações está fechada, o restante fecha nas terças. E assim foi aqui em Beaune.

 O centro velho está dentro das muralhas e baluartes

 A grande pérola de Beaune é o Hôtel-Dieu (não tenho foto): nos idos de 1400 com os efeitos da pobreza e a fome, o Chanceler Nicolas Rolin e sua mulher fundaram em 1443, um "hospital", na verdade representa o que hoje conhecemos como 'santa casa" e ofereciam uma subvenção anual.
O telhado tem o padrão geométrico característico e colorido com telhas vitrificadas.
O evento anual famoso aqui é o Leilão de Vinho Anual de Caridade : no terceiro domingo do mês de novembro após 3 dias de festas ocorre o Leilão: são 53 hectares de vinhedos e o $$ arrecadado vai para asilos e hospitais. Os preços alcançados nesse leilão são a base para a safra.
Enfim perdemos a visita e não podemos esperar o Leilão. Que lástima! 

"Denominação de Origem Controlada", a uva "pinot noir" responde por 35%, a "chardonay" com 45%, "gamay", 11% e a aligoté apenas 5% apesar de ser uma "cepage" muito antiga.
A fama dos vinhos da Borgonha vem há séculos. Após a Revolução Francesa, as leis napoleônicas de igualdade de herança, fizeram com que os vinhedos fossem recortados em pedaços minúsculos, eu digo que é 1 quadradinho do tabuleiro. Isso torna o sistema de controle das Apelações muito complicado. 



A paisagem por aqui é essa: a estrada D 974, antiga N 74, à direita poucas parreiras, à esquerda as encostas ostentando esse luxo e pequeninas vilas e suas incontáveis caves e produtores independentes. Porque a estrada mudou de denominação? A N 74 é a equivalente às BR, a Nacional. Quando eles constroem outra estrada recebe a denominação A e a N é rebaixada para D. Complicado?? Nem um pouco , não se faz aquele serviço marca barbante de duplicar a que já existe. Não! As opções aumentam consideravelmente, vai pela auto-estrada e pagando pedágio se quiser, senão vai pela antiga e estará bem servido da mesma forma porque a manutenção continua...  
Nomes como Nuits St-Georges, Comblanchien, Morey St-Denis




Parada, mirada nos rótulos, degustação e mais 2 garrafas para o acervo




Perceberam a placa??  Vosne-Romanée, a cidade do Romanée-Conti e vamos atrás dos vinhedos ou da cave. Por aqui não há lojinhas de recuerdos ou degustação ... o máximo que encontramos foi a La Maison des Vins (fechada pois era hora do almoço).
Mas queremos ver algo relacionado com Romanée-Conti ... vamos à luta! 

Essa placa acho que é um aviso ... não adianta procurar ...




Olha o que encontramos de novo! Pisadas de peregrinos: como por aqui tem vinhedos mais de 1.000 anos, desde o começo nos anos 800 os peregrinos já tinham o prazer de "surrupiar" e saborear um cacho de uvas
Silvano contempla o quadrado mágico: apenas 1,8 hectare = 18.000 m², com produção de 5.500 garrafas/ano e esse número não vai aumentar nunca porque o "terroir" será sempre de 1,8 hectare.


Tem muito mais pessoas que já ouviram falar do vinho do que pessoas que já o provaram. É o próprio mito engarrafado. O dono da Vinícola, Monsieur Villaine, modestamente diz que o vinho não é para colecionar e sim tomar entre amigos...



A cidade de Vosne-Romanée é muito pequena mas custamos a achar o portão da vinícola. Só curiosidade de ver um RC e sacar uma foto!

Quem não é muito fã de vinhos perdoe essas longas histórias. Não somos entendidos nesse assunto, mas tem tanta história envolvida que é muito fácil querer entender porque as coisas vão por esse caminho e não aquele, o que faz um "quadradinho" tão especial, o que faz uma região séculos e séculos ter a mesma destinação. Algo de muito especial tem! É fascinante estar nesse meio e tentar entender um pouquinho da mística e da realidade. Foi bem interessante passarmos por regiões distintas mas com tradição no que faz.
Feliz! Feliz! A chance de aprender nunca deve ser desperdiçada.



Relutantes seguimos viagem. A mudança de paisagem foi radical. Pouquíssimos quilômetros após sair da D 974 as parreiras deixaram de dar o tom. Voltou a paisagem rural, com plantações de cereais, um pouco de gado.  

O barco não está em terra firme ... há um canal que deságua no Rio Saône.



Franché-Comté à leste da França, em direção às fronteiras com a Suíça e Alemanha. Combina as paisagens cultivadas com cenário alpino. Caminhadas em cenário quase selvagem e rios de águas transparentes a tornam um destino para as férias ao ar livre.
Está escurecendo cedo e quando chegamos a recepção do camping estava fechada. Sorte que um campista estava chegando e abriu o portão e pudemos nos instalar: debaixo de chuva, uma escuridão e grama fofa encharcada.
Mas deu tudo certo. Estamos em Champagney, na Haute Saône, à beira do lago.

Dia seguinte Silvano pagou o camping e saímos em seguida. Voltamos para a cidade anterior: Ronchamp e seu cartão postal maior Chapelle de Notre-Dame-Du-Haut, obra de Le Corbusier.   

Montanha acima






A Capela é uma "escultura" em concreto: para mim lembra o chapéu de uma freira, dos meus tempos de internato! É tão simples e tão bonito!  O entorno faz toda a diferença para destacá-la. Diz a lenda que Le Corbusier, um notório "ateu" relutou em aceitar o trabalho porque não queria que padres e bispos dessem palpites no seu desenho. Depois de muitas promessas e idas e vindas acabou aceitando a encomenda depois de ver o local onde seria erigida a igreja. Atualmente tem um mosteiro, casa para retiro e oficina para turistas e exposição. 
Amei ter vindo! 

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