quarta-feira, 23 de outubro de 2013

15 e 16.10.2013 - Dias 182 e 183 - Remoulins - Pont du Gard - Arles

Estamos na região Languedoc-Roussilon , que vai desde os Pirineus na fronteira com a Espanha até a foz do Rio Ródano=Rhône. Durante as guerras religiosas na Idade Média essa região sofreu vários "tropeços": os cátaros que por aqui se instalaram foram perseguidos e massacrados nos anos de 1200. É uma longa história cheia de intrigas e disse-me-disse ... 
Voltando a 2013 ... deixamos o MH no camping e fomos a pé para mais um Patrimônio da Humanidade, desde 1985: Pont du Gard - aqueduto romano construído antes da Era Cristã, para levar água dos mananciais de Uzès a Nimes.  
É de ficar de queixo caído quando você está em frente a esse monumento!
Esse estava na minha lista tem muitomuito tempo! Cá estamos nós. Oba!
Simbora conhecer!

A Ponte tem 360 mts de comprimento, 50 de altura e 3 níveis, é a ponte antiga mais alta. Um colosso de pedra com arquitetura invejável até nos dias de hoje (minha opinião claro...).
Percorria uma distância de 50 km, levando água por gravidade e transformando decididamente a cidade de Nimes: grande crescimento populacional, economia alavancada, termas públicas, água corrente nas residências e ... vejam só ... preocupação com a salubridade e higiene pública: havia banheiros públicos e o objeto "deixado" ali caia na água corrente e ia para local adequado, que não era o rio ... estamos falando do ano 1 d.C. Enquanto isso, no patropi, temos números muito baixos de encanamento e tratamento de esgoto (mas dizem que a gente chega lá).   

Uma região rochosa, com muitas pedreiras e no verão essa beira-rio fica lotada 
São três filas de arcos: com 6, 11 e 47 na origem. Esse modelo também foi uma inovação para a época. Enormes blocos de pedra, encaixados por um engenhoso sistema de roldanas e um enorme exército de escravos.
O aqueduto atendeu por +- 500 anos e depois foi abandonado, não por falta de água, mas por assoreamento dos túneis e canais. Com o tempo as pedras foram retiradas para novas construções.


Placa falando sobre essas oliveiras, que são do ano 908 e foram transplantadas

Um Oliveira debaixo da sombra de uma oliveira




www.pontdugard.com/pt/pont-du-gard/historia-de-uma-ponte-notavel
Faz parte do complexo de visitação: Museu, sala de exposições, restaurante, lojinhas e muita trilha para caminhar 


Assistimos filme, almoçamos por ali mesmo, começou a garoar e fomos embora.
Nosso destino é Arles, que fica na Provence, ou, Provença. Região que evoca dias claros, sol luminoso e radiante, pimentas e alhos, cerejas e e melões perfumados "os melhores melões de Cavaillon" e as oliveiras, quase eternas!
A paisagem e a luz trouxeram para cá e inspiraram artistas e escritores: de Van Gogh a Picasso, de Scott Fitzgerald a Pagnol... sem esquecer Ernest Hemingway, porque esse esteve em todos os lugares que tinham agito e movimentação.
Outra instituição da Provença são as feiras=marché: de domingo a domingo, cada dia em uma cidade diferente, algumas 2 vezes na semana. Quando entramos na cidade sempre tem uma placa indicando o dia do "marché".
E o que fazer nessas feiras?! De tudo: olhar, cheirar, flanar, sentir os aromas, ver as pessoas da cidade e seu carrinho de feira ... de um tudo! flores, frutas, verduras e legumes, especiarias e temperos, passando pelo vestuário e calçados, artigos de decoração e artesanato... verdadeiro shopping a céu aberto.
A Provença tem seus limites definidos pela própria natureza: a oeste, o rio Ródano; ao sul , o Mediterrâneo. O limite norte são as oliveiras e a leste, os Alpes.
Nesse meio ficam paisagens igualmente interessante e contrastante: desfiladeiros, planícies, praias e campos de lavanda (a alfazema é da mesma família, tendo entre elas algumas diferenças sutis),  que em julho torna a Provença mais bonita ainda, na cor roxa/lilás/violeta...
Como estamos em outubro já foram colhidas e estão sendo transformadas em óleo essencial, sabonetes, cosméticos, etc. Fica a "promessa": em 2014 aqui estar antes da colheita... preciso ver esses campos floridos e com carreiras em ordem e em forma ....
Sempre houve "forasteiros" por aqui, dos romanos até nossos dias ... todos querendo usufruir da Provença banhada de sol mas que sabe ser hostil quando sopra o Mistral : aqui vai uma explicação técnica sobre esse vento:
do grego katabatikos=catabático=descendo colinas ou pelo nome técnico de "drainage wind" = vento com ar de alta densidade de uma região elevada descendo a encosta !!!!! Entenderam pois não!!!!
Pois é, ele (o vento) desce pelo vale do Rio Ródano assobiando e cada vez com maior velocidade. Só passando por ele para saber a força que tem. Se houver alguma janela descuidadamente aberta .... 
Corre a lenda que quando sopra o mistral pode-se usá-lo como atenuante em alguma situação grave que você se envolva ... se é verdade não sei, é o que dizem .... 
Mas voltando ao assunto: chegamos em Arles: anfiteatro e ruínas romanas, museus, igrejas, touradas. Cidade charmosa e com um céu azul típico de outono impressionante!
O camping fica na cidade vizinha, +- 4 km do centro de Arles.
Dia seguinte faxinamos o MH, lavei roupa e fomos de bicicleta passear em Arles. 
Ocupada inicialmente pelos celtas, colonizada pelos gregos, tornou-se colônia romana criada por Júlio César para instalar os veteranos de suas legiões.
Nessa época era conhecida como "a pequena Roma dos gauleses".
No começo da era cristã tornou-se importante centro religioso, foi invadida e saqueada, renasceu no século 12 ... teve uma "vidinha" agitada.
Arles é classificada pela UNESCO como cidade artística e histórica. Todos os monumentos romanos são tombados como Patrimônio Universal.
E como última curiosidade: Arles é o maior município da França, com 760 km².
Olha o Caminho de Santiago aí gente!!
 Olha esse azul!!! A foto pode até ser ruim que nem se presta atenção!

 Anfiteatro Romano : a construção de um anfiteatro dá bem a medida da importância da cidade para os romanos

 Arcos sustentados por colunas dóricas e coríntias. 
Alguém se lembra dessa aula? Vamos ao tio google: as dóricas são as mais simples, rústicas, desprovidas de base e capitel sem enfeites. As coríntias: mais "empetecadas", esguias, detalhes para mostrar luxo e poder. Aqui elas não aparecem, mas tem o terceiro tipo: as jônicas, meio sem personalidade: mistura das 2 primeiras ...
Ninguém perguntou também mas já vou avisando: não, não foi daqui que saiu o nome do glorioso (para quem torce para ele) Sport Club Corinthians Paulista ! 
Já que comecei vou terminar: nos idos de 1910 o time inglês Corinthians-Casuals Football Club (de Londres) fez uma excursão pelo Brasil. Quando formaram o time tomaram metade do nome do time inglês. Em 1988 o time inglês voltou ao Brasil para jogar contra o Corinthians, inclusive com participação de Rivelino e Sócrates. Ganhamos de 1x0 e o Sócrates a pedido dos ingleses jogou 15 minutos com eles. Tá no google, se é vero ....
Puxa que tergiversada! O que faz uma coluna para mudar de assunto heim?!
     


Galerias antes e depois da última restauração
De fevereiro a finais de setembro acontece aqui e em várias cidades da Provença a temporada das touradas. Para delírio de milhares de aficcionados ... diferentemente da Espanha, aqui não termina em morte. Não sei exatamente do que consiste, mas pelo que pude entender é mais um balé, brincadeira de "gato e rato" .... que nenhum arlesiano leia essa bobagem que escrevi por aqui


 Foto tirada do anel superior do Anfiteatro, com vista para o casario, ruelas medievais e o Ródano ao fundo



 Não sei exatamente o que essa concha está fazendo aí, pregada no alto do anel superior,  mas é o símbolo do ... Caminho de Santiago
     
Um dos muitos quadros pintados por Vincent Van Gogh durante sua estadia de 15 meses em Arles, chegando em fevereiro de 1888.

Vamos para outro cartão postal de Arles ...

Isso era um luxo só! Inicialmente era um forte, evoluiu para o teatro e com a decadência, as pedras foram usadas em outras construções


 Atualmente acontece aqui o Festival de Teatro de Arles



 Torre remanescente da Fortaleza

Essas pedras aguardam serenamente para serem recolocadas em seus locais de origem ... tempo é o que elas tem de sobra ... já são mais de 2.000 ...

Circulamos pelas ruas estreitas que vão serpenteando pela cidade mais que antiga, vendo vitrines, admirando o casario ocre. 



 A Igreja de St-Trophime combina um exterior românico do século 12 com claustros românicos e góticos.
Esse é o portal principal com esculturas de santos e apóstolos


 Os claustros estão em avançado trabalho de restauração, e dá para acompanhar o trabalho de alguns técnicos: imagino que leve muito tempo trabalhando com tanta minúcia, tudo na ponta do dedo, com espátulas pequeninas e ir raspando, olhando com lupa, raspando mais um pouquinho ... Dedicação é a palavra!



No telhado do Claustro da Igreja de St-Trophime: turistas lagarteando  



 Um passeio pelos subterrâneos de Arles: os Criptoporticos=Cryptoportiques
Construídos para dar sustentação à construção do Forum, em torno dos anos 20-30 a.C. 


Em tempos que não existia campainha ... aldrava

 Vincent Van Gogh resolveu morar no sul da França e tinha planos de reunir artistas e pintores onde pudessem trabalhar ao ar livre, com uma luminosidade desconhecida na região mais ao norte. 
Van Gogh começou a pintar tardiamente, foi sustentado pelo irmão quase que em tempo integral.
Durante a estada em Arles de Paul Gauguin houve um desentendimento e, reza a lenda (gosto dessa expressão...), que um dia após desentendimento entre eles Van Gogh tentou atacar Gauguin com uma navalha. Como não conseguiu ficou "bravo" e cortou o lóbulo da própria orelha ...é doido ou precisa de mais indícios!!!  
 A antiga Casa de Saúde onde ele foi internado para"tratar" a orelha atualmente é um Centro Cultural, Biblioteca e anexos da Universidade
 Esse quadro foi pintado nos jardins da casa de saúde onde ele foi internado.
Depois desse primeiro episódio ele só "piorou": foi diagnosticado com depressão, naquela época os artistas tomavam muito absinto e prá ficar "pirado" não demorava nada.
Mas quanto mais doente ele ficava paradoxalmente mais ele atingia a plenitude como pintor. Trabalhava muito, mas em vida vendeu apenas um quadro "O vinhedo vermelho". Ele gostava muito da cor amarela, ajudada pela luminosidade da Provence é a cor mestra em suas obras.



Essa marcação no chão é a Rota Van Gogh 




 Voltando para casa, ops... , voltando para o MH! Mas é nossa casa!! É bom saber que de noite voltamos para casa!


Boa noite e até amanhã.

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